[CRÍTICA] Medida Provisória: a ficção realista e definitiva do governo Bolsonaro

[CRÍTICA] Medida Provisória: a ficção realista e definitiva do governo Bolsonaro

[CRÍTICA] Medida Provisória: a ficção realista e definitiva do governo Bolsonaro

É até estranho finalmente ter a honra de assistir Medida Provisória! Porém, é impossível começar a falar sobre filme sem enaltecer a figura de Lázaro Ramos. Que é, de...

[CRÍTICA] Medida Provisória: a ficção realista e definitiva do governo Bolsonaro
Imagem: Reprodução | Divulgação
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É até estranho finalmente ter a honra de assistir Medida Provisória! Porém, é impossível começar a falar sobre filme sem enaltecer a figura de Lázaro Ramos. Que é, de longe, um dos artistas mais especiais que temos em nosso país. O homem tem um sorriso e simpatia digna da dimensão de seu talento. Seja em novelas, filmes, nos palcos, ele possui aquele carisma que te mantém curioso para seja lá qualquer coisa que ele estiver fazendo.

Portanto, não poderia vir carregada de maior curiosidade e expectativa a sua grande estreia como diretor nos cinemas. Depois de comandar peças no teatro, é a vez do Lazinho (se nos permite a intimidade) comandar uma grande produção nas telonas.


E ao fim de Medida Provisória, só fica a constatação de mais uma das qualidades de Lázaro. Sua estreia como diretor não poderia ser mais positiva. Cheio de personalidade, ele conduz essa complexa história com um gingado que nem mesmo muitos veteranos da área conseguiriam fazer.

Poucas vezes vimos algum ator pular para a direção com tanta competência. E além de toda a discussão e reflexão levantada, é evidente porque esse projeto era mais do que perfeito para sua estreia. Afinal, o filme adapta a peça ‘Namíbia, Não!’, que foi dirigida justamente por Lázaro nos palcos.


Pouco mais depois de 10 anos de sua estreia nos palcos, a adaptação chega aos cinemas mais atual do que nunca. Quem diria que de 2011 pra cá, qualquer visão de distopia ou ficção caótica para o Brasil ficaria cada vez mais próxima da realidade?

A luta diária e o racismo estrutural é de séculos, mas tem um peso muito particular com o que vivenciamos nos últimos anos. Seja pela reforçada do debate, o posicionamento e, claro… o desgoverno mais desumano que esse país já teve.


Quando a ficção é mais real do que qualquer coisa

Se ‘Não Olhe Para Cima’, aquele filme com o DiCaprio, perde todo o impacto ou absurdo para nós brasileiros, Medida Provisória é aquela ficção que não está MESMO longe da realidade. E isso não é apenas em frases preconceituosas do cotidiano que são até motivo de graça como ‘Vai pra Cuba’, ‘Sofro racismo por ser branco’ ou qualquer coisa do tipo.


Mas sim pelo simples fato de que seria totalmente plausível do governo atual fazer exatamente as mesmas coisas que o governo dessa trama faz. Sem nenhum exagero. Infelizmente, o brasileiro já aceitou a condição de que qualquer absurdo é possível, e até brincamos que ‘nada mais nos surpreende’.

Isso se reflete de maneira alarmante para uma das frases mais simbólicas e diretas do filme: ‘Como a gente não viu isso chegar?’, ‘Como que a gente achou graça?’, ‘Como a gente deixou isso acontecer?’. Não existem frases que descrevam melhor os últimos 6 anos, e em especial os últimos 4 do atual governo.

Force sua cabeça e você consegue imaginar rapidamente qualquer deputado grotesco do Rio de Janeiro ou sub-celebridade de direita, como o escolhido para o cargo do Ministério da Devolução.

Resumindo, uma simples varredura nas notícias mais recentes de nosso país já são a inspiração e base perfeita para qualquer distopia. mas o roteiro (também com contribuição de Lázaro) encara esse desafio de maneira brilhante.

Ao encontrar uma forma de mesclar esse futuro e presente sombrio, discussões sobre colorismo e dívida histórica e fazer todas essas críticas com uma dose surpreendente de bom humor. Pelo tema, esse poderia ser facilmente um dos filmes mais sombrios e pesados de todos.

Seu Jorge é uma força da natureza

Mas é esse equilíbrio que usa do bom humor para nunca nos esquecermos da esperança e da força de resistência. Um alerta que nos lembra de que não podemos nunca desvalorizar a nossa liberdade e a alegria de viver, enquanto for possível.

Enxertando ainda mais energia e personalidade, o filme se torna ainda mais brilhante graças ao poderoso elenco. Simplesmente uma jogada de gênio para quem teve a primeira ideia de colocar Alfred Enoch como Antônio, o protagonista.

O ator que ficou marcado na cultura pop por produções estrangeiras como Harry Potter e How To Get Away With Murder, resgata suas origens brasileiras e entrega uma atuação emocionante e louvadamente esforçada. É óbvio que seu sotaque e pronúncia causam estranheza, mas em nada atrapalha. O cara simplesmente destrói em cena, e prova que é um talento que merece ser ainda mais valorizado lá fora.

E ele nem poderia se dar ao luxo de não se esforçar, já que Seu Jorge chega e te surpreende como se fosse a primeira vez em que o estivéssemos vendo. O veterano já atua há anos, mas encontra cada vez mais carisma e vigor. Com esse show de carisma, o seu André traz um contraste interessante com Antônio.

Mesmo sendo diferentes em muitas coisas, a química da dupla traz um sentimento tão genuíno que é aquela amizade que se dá gosto de simplesmente assistir.

Rainha!

Pode parecer até óbvio, mas quem também surpreende mesmo já tendo provado todo seu talento é Taís Araújo. Mesmo que um núcleo que contam muitos outros personagens, Capitu brilha em cada momento, com direito a um discurso e reações em momentos chave que são de arrepiar. Simplesmente.

Pra completar, o elenco faz bom uso de mais rostos conhecidos das novelas, e coloca Adriana Esteves para interpretar mais uma vilã. Com um senso de ironia que nem lhe obriga a fazer algo fora da caixinha, mas que cumpre o necessário.

O mesmo vale para Renata Sorrah, que recria de forma hilária os absurdos que você com certeza já ouviu de alguma senhora branca por aí.

Por fim, o filme só não atinge um posto maior de beirar a perfeição por algumas questões técnicas. Tal como a montagem que tira um pouco do ritmo e tom da gravidade em alguns momentos. Ou a câmera de mão tremida de Lázaro que, por mais que fazem sentido, é algo que se demora a acostumar.

E um momento específico que é montado e dirigido de forma que não fica muito claro o que está acontecendo, ou não é apresentado da melhor forma possível. Assim como a conclusão é carregada de bons momentos, mas poderia extrair um pouco mais da magnitude do que está acontecendo.

Medida Provisória é obrigatório para se assistir nos cinemas!

Entretanto, esses são apenas detalhes que se tornam irrelevantes quando pensamos no que realmente importa, e que o filme é um marco para o cinema brasileiro. Não só por conseguir sobreviver e ser lançado mesmo contra todo o esforço do governo para que isso não acontecesse.

Mas também por toda sua dinâmica e linguagem. Medida Provisória é comparado com um ‘Black Mirror brasileiro’, mas não apoiar a qualidade do filme em um produto exterior. Mas sim para realçar que temos um filme genuinamente brasileiro, com toda a nossa essência, e de um jeito que se fosse um filme de Hollwood, seria grande candidato nas premiações de lá.

É por isso que Medida Provisória é um filme que precisa de todo o apoio possível. Assista-o nos cinemas OBRIGATORIAMENTE a partir do dia 14 de Abril!

Nota: 8,0/10

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