Como Hollywood caiu numa crise sem precedentes

Concorrência com streaming e foco somente em franquias bilionárias levou a indústria do cinema americano à crise financeira e criativa.

Como Hollywood caiu numa crise sem precedentes

Concorrência com streaming e foco somente em franquias bilionárias levou a indústria do cinema americano à crise financeira e criativa.

Como Hollywood caiu numa crise sem precedentes
O MOMENTO NÃO É BOM
Imagem: Reprodução | Divulgação
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O fim de semana de 14 a 16 de março de 2025 foi o pior do ano na bilheteria americana até o momento. Todos os filmes em cartaz arrecadaram cerca de US$ 51 milhões. Um valor não muito distinto do registrado nesse mesmo período há cinco anos – o último fim de semana de relativa normalidade antes que a pandemia se tornasse global.



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O líder das bilheterias foi a comédia de ação Novocaine: À Prova de Dor, que faturou US$ 8,8 milhões em todo o fim de semana. Uma abertura digna dos piores dias da Covid 19. Ele foi seguido por longas como Mickey 17, Código Preto, uma animação dos Looney Tunes (lançada por um estúdio indie e não pela Warner), entre outros.

Ou seja, há várias opções em cartaz nos cinemas americanos, variando de ação a ficção científica, espionagem, terror. Há filmes para adultos e para crianças. Entretanto, as bilheterias seguem com números terríveis. E por quê?


Simples: nenhum desses longas é um blockbuster, um grande filme evento. O único blockbuster convencional em cartaz é a aventura da Marvel Capitão América: Admirável Mundo Novo. Seu acumulado é de US$ 185,3 milhões na bilheteria americana e US$ 388,5 milhões global. Um valor menor do que o de outros filmes em cartaz no mesmo período há um ano, como Duna: Parte 2 e Kung Fu Panda 4.

Depois que a primeira metade da década trouxe desafios sem precedentes à indústria do cinema, como a pandemia e as greves de 2023, o atual ano era para ser o primeiro de “normalidade”. Ou seja, com um calendário regular de lançamentos durante todo o ano, tal como costumava ser até 2019.


O problema é que, de lá para cá, houveram uma série de mudanças que colocou a indústria do cinema numa posição ainda mais precária. Além disso, as piores tendências praticadas por Hollywood em anos anteriores finalmente cobraram seu preço.

Por que as bilheterias andam baixas?

Ao longo das últimas décadas, ir ao cinema tornou-se uma atividade quase restrita a alguns poucos filmes evento para boa parte da população. Estes são em sua maioria blockbusters convencionais (como os filmes dos Vingadores), porém podem incluir às vezes filmes independentes de orçamento menor que geram buzz na internet – vide Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo ou Longlegs: Vínculo Mortal.


Durante os últimos quinze anos, o público foi gradualmente perdendo o interesse em ver nos cinemas filmes comuns, não atrelados a propriedades intelectuais famosas (ou mesmo apenas conhecidas por terem feito sucesso anos atrás – vide Caça-Fantasmas).

Isso foi reforçado pela popularização do streaming, que deu ao público diversos filmes e séries ao toque de um botão. Além disso, todos sabemos que ir ao cinema não é uma atividade barata e tem ficado cada vez mais dispendiosa nos últimos tempos.


O resultado disso vemos nestes primeiros meses de 2025: temos diversos filmes em cartaz, muitos deles bem recebidos pela crítica, e no entanto as bilheterias registram seu menor número em meses. E a situação só não foi pior graças ao blockbuster da Marvel, ainda que seu faturamento esteja longe do que vimos no auge do MCU.

Um reflexo dessa situação é a menor quantidade de filmes em cartaz. Segundo artigo de Scott Mendelson em seu blog no Substack, as maiores distribuidoras hollywoodianas (Disney, Warner Bros, Paramount, Sony, Lionsgate, Universal e a extinta Fox) lançaram 129 filmes nos cinemas em 2014. Dez anos depois, este número caiu para 90. E mesmo que 2024 tenha sido impactado pela greve dos atores e dos roteiristas, em 2025 (que era para ser o primeiro ano de “normalidade” da década) tudo indica que teremos no máximo 95 lançamentos.

Em resumo: com menos lançamentos, as bilheterias ficaram totalmente dependentes de uma dúzia de franquias. Mas o que acontece quando propriedades intelectuais que antes eram garantia de grandes faturamentos começam a mostrar sinais de desgaste? É o que houve com o Universo Marvel, a antes imbatível franquia de Kevin Feige que, graças a uma série de erros cometidos nos últimos cinco anos, perdeu grande parte de sua força.

Perspectivas para 2025 são pessimistas

Neste ano, a sobrevivência dos cinemas dependerá de filmes de super-heróis cujo prognóstico nas bilheterias é arriscado (vide Thunderbolts e Superman), franquias que já passaram da data de validade (Missão: Impossível 8, um novo Jurassic World), mais remakes live-action de clássicos animados (Lilo & Stitch, Como Treinar o seu Dragão) e mais tentativas de trazer de volta sucessos de décadas anteriores (variando de Karatê Kid a Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado).

Hollywood espera que os jovens de hoje tenham interesse por franquias pensadas para os jovens de ontem. E tudo porque, graças a décadas de bilheterias recorde concentradas em um número cada vez menor de blockbusters, hoje a indústria não consegue convencer a audiência a pagar por um ingresso de cinema se o filme não estiver atrelado a uma propriedade intelectual famosa ou mesmo reconhecida.

Esse problema tem solução?

Felizmente sim, ainda que não vá ser tão simples implantá-la. A ideia é reacostumar a audiência a assistir nos cinemas filmes não porque eles tenham ligações com propriedades intelectuais ou sucessos do passado, mas sim porque eles trazem uma história inédita, interessante, relevante e estrelada por artistas de talento.

Como não será de uma hora para outra que isso será feito, muitas tentativas fracassarão no caminho. Por isso, os estúdios não devem torrar orçamentos gigantescos nesses filmes, ao menos não num primeiro momento, a fim de não assustar os acionistas e executivos da indústria.

Veja o caso de Mickey 17: tal longa custou US$ 118 milhões para ser feito. Isso significa que ele precisaria arrecadar no mínimo US$ 350 milhões globalmente para dar lucro, algo impensável para este tipo de filme no atual contexto.

Por outro lado, Novocaine: À Prova de Dor ao menos custou “apenas” US$ 18 milhões. Um orçamento bem mais responsável e que permite que o longa possa ser lucrativo, se não nas bilheterias então ao menos mais para a frente, com as vendas para streaming.

Será uma longa e tortuosa jornada para a indústria. Porém, é melhor que a alternativa, que seria depender totalmente de algumas franquias que eventualmente irão se esgotar. E aí o que fará Hollywood?

Mas e você, acha que essa crise tem solução? Deixe nos comentários aí embaixo!

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