Cinema brasileiro ainda não se recuperou da pandemia
Apesar da recuperação da indústria cinematográfica em 2021 e 2022, público do cinema brasileiro segue em baixa desde a pandemia.
O Informe Anual da ANCINE divulgado na semana passada (via Filme B), deixa claro que ainda que o mercado do cinema tenha voltado, o mesmo não se pode dizer dos filmes nacionais.
Os dados mostram que, em 2022, houve um crescimento de 82% no público e 98,8% na renda em relação à 2021. Os números ainda estão distantes dos patamares pré-pandêmicos (foram 95 milhões de ingressos no ano passado contra 178 milhões em 2019), mas é notável a melhora.
Este crescimento foi capitaneado principalmente por filmes hollywoodianos. São blockbusters como Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (17,8 milhões de ingressos vendidos), Avatar: O Caminho da Água (11,7 milhões) e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (8,3 milhões), que alcançaram bilheterias grandes o bastante para figurarem entre as maiores da história no país.
O cinema brasileiro, porém, não vê um grande sucesso desde a histórica performance de Minha Mãe é uma Peça 3 nos primeiros meses de 2020, que se tornou o maior faturamento (R$ 185 milhões) e o segundo maior público (11,6 milhões de ingressos) da história dos filmes nacionais. Em seguida, a pandemia fechou as salas e, quando elas foram reabertas, nenhum filme brasileiro conseguiu vender mais de 1 milhão de entradas ao final de sua carreira.
Como o Filme B indica, em 2019 houveram seis filmes brasileiros que ultrapassaram a marca do 1 milhão, e nove que venderam acima de 500 mil ingressos. Isso incluía filmes religiosos como Nada a Perder – Parte 2 (6 milhões), comédias como o citado Minha Mãe é uma Peça 3 e Minha Vida em Marte (5,3 milhões), o aclamado pela crítica Bacurau (737 mil) e infantis como Turma da Mônica: Laços (2,1 milhões) e Detetives do Prédio Azul 2: O Mistério Italiano (1,32 milhões).
Já em 2022, apenas dois longas conseguiram vender mais de 500 mil entradas. O líder foi Turma da Mônica: Lições, que enfrentou concorrência com o titã Sem Volta para Casa no início de 2022 e saiu de cartaz com 825 mil ingressos, um resultado heroico porém mais de 60% abaixo do de seu predecessor Laços.
Como consequência, o market share da produção nacional sofreu uma queda desanimadora: se nos anos antes da pandemia uma média de 14% do público anual pertencia aos filmes brasileiros (o que em si já era uma porcentagem baixa em comparação com outros países), em 2022 ela caiu para 4,2%.
Um dos motivos disso é a gigantesca diferença no lançamento entre as produções nacionais e o blockbuster estrangeiro. No ano passado, a maior abertura do ano foi Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, que estreou em 2585 salas e vendeu quase 3 milhões de ingressos em seu primeiro fim de semana. Já a maior abertura nacional foi mais uma vez Turma da Mônica: Lições, que saiu em apenas 909 salas.
Claro, isso já ocorria antes da pandemia. Em 2019, sucessos como Vingadores: Ultimato e O Rei Leão abriram em respectivamente 3129 e 2372 salas, enquanto os maiores sucessos nacionais do ano foram lançados em cerca de mil salas. A exceção foi mais uma vez Minha Mãe é uma Peça 3, que saiu em quase 2000 salas, mas isso devido ao fato de ser uma estreia muito mais antecipada (com 1,9 milhão de ingressos no primeiro fim de semana, é a maior abertura de uma comédia brasileira) do que a média.
Enfim, até antes da pandemia o público comparecia sem maiores problemas aos maiores hits brasileiros, mas agora boa parte da audiência, inclusive em segmentos mais populares, parece ter priorizado de vez os longas estrangeiros.
E como mudar essa situação? A ANCINE aposta que, em 2023, lançamentos de maior apelo comercial contribuam para fazer o público nacional voltar a assistir filmes brasileiros no cinema. Infelizmente, após a morte de Paulo Gustavo (o criador e protagonista da trilogia Minha Mãe é uma Peça, e que também foi essencial para o sucesso de Minha Vida em Marte), ainda não surgiu nenhum outro artista tupiniquim com o mesmo potencial de bilheteria.
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[fonte: Filme B]