Pecadores surpreende nas bilheterias e choca a indústria do cinema
Pecadores tem bilheteria melhor do que o esperado e mostra que a audiência ainda não desistiu por completo de ver filmes originais na telona.

O filme Pecadores, um suspense proibido para menores de idade e, mais importante, não baseado em nenhuma franquia bilionária, surpreendeu nas bilheterias globais. Com isso, forneceu um contraponto à noção (discutida aqui no Legado Plus nas semanas anteriores) de que a audiência atual não vai ao cinema ver produções originais. Mas por que Pecadores fez bons números e Mickey 17 não?
Primeiro vamos aos números. Pecadores, dirigido pelo aclamado Ryan Coogler (dos dois filmes do Pantera Negra na Marvel), arrecadou US$ 48 milhões no final de semana nos EUA, tomando a liderança de Um Filme Minecraft. O filme baseado em games tem um acumulado de US$ 40,5 milhões na terceira semana para um total de US$ 344 milhões na América do Norte e US$ 718 milhões global. Ambos foram distribuídos pela Warner Bros., que após sofrer com uma série de fracassos nos últimos meses, finalmente tem motivos para sorrir.
Fora dos EUA, Pecadores arrecadou US$ 15,5 milhões, resultando numa estreia global de US$ 63,5 milhões. No Brasil, o filme faturou R$ 4 milhões (pouco menos de US$ 650 mil) e levou cerca de 170 mil pessoas aos cinemas.
Pecadores é um sucesso de bilheteria?
Apesar da estreia promissora, vale lembrar que a situação de Pecadores ainda não é totalmente confortável. O longa custou incríveis US$ 90 milhões para ser feito, uma fortuna para um terror.
Para se ter uma ideia, em 2019 It: Capítulo Dois chamou a atenção dos especialistas em bilheteria graças ao seu custo então considerado absurdo: US$ 70 milhões. Recentemente, Nosferatu (que, tal como Pecadores, também envolve vampiros) precisou de US$ 50 milhões para ser feito.
Ao preço de US$ 90 milhões, Pecadores precisará faturar entre US$ 270 milhões e US$ 300 milhões globalmente para dar lucro à Warner. Será que vai conseguir? Como você viu, embora o longa tenha surpreendido nos EUA, fora de lá seus números foram muito menos impressionantes. Pode ser que a audiência internacional enxergue o longa como muito ligado à história americana e à cultura de sua população negra. Por isso, o boca a boca será essencial.
Entretanto, tudo indica que Pecadores deverá ter uma longa carreira. O público adorou o filme: trata-se do primeiro terror a conquistar um A no CinemaScore. Com isso, é bem provável que ele vá mostrar ótima resiliência nas bilheterias. Isso sem falar num burburinho inicial para a próxima temporada de premiações.
Apostas arriscadas
Ao longo dos últimos meses, um dos principais assuntos na indústria do cinema é o dilema de se a audiência ainda iria pagar para ver no cinema filmes que não estivessem ligados à franquias.
Os três primeiros meses de 2025 foram repletos de longas baseados em ideias originais que decepcionaram nas bilheterias. São filmes como Mickey 17, Novocaine: À Prova de Dor, Código Preto, o recente Operação Vingança…
Mickey 17 foi também lançado pela Warner. O estúdio tem um plano ambicioso para este ano e o próximo: afora os blockbusters convencionais (Minecraft, Superman, etc), vai lançar diversos projetos autorais de diretores famosos com um orçamento considerável. Mickey 17 (que custou US$ 118 milhões e faturou US$ 127 milhões globalmente) e Pecadores foram os primeiros.
Em setembro o aclamado Paul Thomas Anderson (que, apesar de adorado entre os cinéfilos, nunca fez um filme que arrecadasse mais de US$ 80 milhões nas bilheterias) lançará seu projeto mais caro pela Warner. Trata-se de Uma Batalha Após a Outra, um filme adulto que custou inacreditáveis US$ 140 milhões e é uma das apostas mais arriscadas do ano.
Uma nova esperança?
Mickey 17 em grande parte não conquistou a audiência, ao menos num nível suficiente para gerar um bom resultado financeiro. Já Pecadores é a maior abertura para um filme original de qualquer gênero desde Nós (US$ 71 milhões) em 2019. Por que um fez sucesso e o outro não?
Para começar, fracassos e sucessos nas bilheterias são parte da trajetória da indústria do cinema desde sua origem. Para cada megahit que atrai multidões aos cinemas, há diversos outros longas que falharam em chamar a atenção do público. E tem sido assim desde o início.
A grande diferença para o atual momento é o desafio existencial vivido por filmes comuns, sem estarem ligados a universos compartilhados ou franquias bilionárias. Hollywood segue apostando em ideias originais, mas caso elas em sua maioria fracassem, a indústria não terá escolha a não ser depender de franquias (mesmo aquelas que já passaram da data de validade – vide Velozes & Furiosos, Jurassic Park, Star Wars, etc) para se manter viva.
Tanto Mickey 17 quanto Pecadores são comandados por diretores aclamados (Bong Joon-Ho e Ryan Coogler) e estrelados por atores reconhecidos e famosos por terem aparecido em blockbusters anteriormente (Robert Pattinson e Michael B. Jordan). Suas premissas são curiosas e interessantes. As críticas de ambos são majoritariamente positivas. Porém, só um deles fez bons números.
Mais uma vez, é comum que, enquanto alguns filmes são bem sucedidos, outros fracassam. Porém, quando falamos de filmes baseados em ideias originais, fica muito mais difícil para Hollywood prever qual deles fará sucesso.
Por que você acha que Hollywood investiu tão pesadamente em franquias baseadas em propriedades conhecidas por tão pouco tempo? Quando se trata de sequências, prequels, reboots ou o que quer que seja de filmes baseados em personagens bilionários e marcas famosas, é muito mais simples esperar um sucesso.
A originalidade tem um preço
Agora, em se tratando de produções originais (ou ao menos baseadas em obras menos famosas globalmente), é quase um completo tiro no escuro. Seu filme pode ter um excelente diretor no comando, roteiro impecável e astros de primeira grandeza e ainda assim falhar em convencer a audiência a pagar por um ingresso de cinema para vê-lo na telona.
O problema é que as franquias que sustentaram Hollywood nas últimas décadas ficam cada vez mais desgastadas. A indústria do cinema precisa parar de depender somente de longas da Marvel, DC, Star Wars, Velozes, ou de sequências de sucessos de mais de 20 anos atrás. E isso passa por reacostumar a audiência a ver na telona produções que não sejam conectadas à mega franquias ou sagas intermináveis.
Os estúdios precisam continuar insistindo nesse tipo de filme, mesmo que, num primeiro momento, não gastem fortunas com eles para não assustar os acionistas. Alguns irão fracassar, claro. Porém, o surpreendente sucesso de Pecadores mostra que nem tudo está perdido e que a audiência ainda consegue se conectar com longas originais. Já é um começo.
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Fonte: The Numbers
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