[CRÍTICA] Os Banshees de Inisherin: Absurdo e amizade no filme mais diferente do Oscar 2023
Com trama inusitada e imersiva, Os Banshees de Inisherin traz elenco PODEROSO num dos grandes destaques dessa temporada de premiações. Confira a nossa crítica:
Os Banshees de Inisherin é um filme que atrai curiosidade imediata só pelo seu nome que, a princípio, não fará sentido para quase ninguém. O hype só aumenta pelo fato de ser o primeiro filme do diretor Martin McDonagh desde o aclamado e premiado ‘Três Anúncios para um Crime’.
Não só isso, como o filme reúne a improvável dupla perfeita formada por Colin Farrell e Brendan Gleeson de outro filme do diretor: ‘Na Mira do Chefe’. Mas apesar de uma aura similar e reflexiva ambientada em um local pacato e isolado da Europa, quem diria que todos esses elementos se reuniriam para algo tão diferente.
Com toda a confiança carregada dos projetos anteriores, Martin retorna com a ousada e coragem de apostar em uma história que ninguém nunca pensaria (MESMO) em fazer. E que te deixa pensando ao longo de suas 1h50 se é sério que um filme desse tipo exista. Sim, isso tudo de maneira positiva.
A sinopse de Banshees não poderia ser mais direta ao ponto, objetiva e sincera: Certo dia, Pádraic (Colin Farrell) começa a ser ignorado por seu amigo (Brendan Gleeson), que simplesmente decide ENCERRAR a amizade de longa data. De um dia para o outro.
Ambientado numa ilha isolada da Irlanda, somos imediatamente sugados para o tédio e marasmo da vida pacata e falta do que fazer no lugar. Não tendo cenário melhor para jogar o público no dilema dos personagens quase como se nós morássemos nesse lugar e também fizéssemos parte dessa grande fofoca de cidade pequena.
Colin Farrell justifica sua indicação ao Oscar com atuação cheia de camadas!
O roteiro mergulha na mais profunda neurose e pensamentos inquietos de Pádraic sobre o motivo de seu amigo tomar uma decisão tão drástica, de um jeito bem exagerado, mas que ressoa com algo que todo mundo já passou na vida em algum momento, ao se questionar sobre quais ações suas teriam provocado tamanha consequência.
Com o foco no EXAGERADO, Farrell se joga de cabeça no personagem e entrega tanto o lado irritante, bondoso e digno de pena. Ao mesmo tempo que você entende porque ele está sendo evitado, você também se indigna com o jeito abrupto que tudo acontece, tal como as reações impulsivas que talvez qualquer pessoa teria na mesma situação.
A reunião da dupla de ‘Na Mira do Chefe’ não poderia ser mais bem vinda, com Gleeson fazendo o contraponto de Farrell. Com uma personalidade extremamente diferente do seu colega, ele também consegue entregar a recepção ambígua do personagem. Ao mesmo tempo em que entendemos suas atitudes, ficamos o filme inteiro dizendo internamente “PRA QUE ISSO TUDO?”.
No meio de tantos personagens excêntricos, o filme tem como destaque a personagem de Kerry Condon, justamente a pessoa mais “sã” e sensata de toda a ilha. Representando todas as reações possíveis do público em meio ao sufocante tédio e conflito.
Falando em show de atuação, não podemos falar do filme sem todos os elogios possíveis para Barry Keoghan, que continua trilhando uma carreira surpreendente e com papeis cada vez mais diferentes. Não é à toa, todos os quatro atores foram indicados ao Oscar em suas respectivas categorias!
Ao fim de Banshees, muitos podem se perguntar: “O filme é exatamente SÓ isso?”. Embora seu ritmo mais lento possa não ser para todo mundo, só a absurda coragem do filme de focar em um tema tão inusitado, já o diferencia de qualquer produção super-valorizada ou enfeitada que assola a temporada de premiações, muitas vezes filmes forçados ou genéricos (os famosos Oscar-bait).
Cercados pelo tédio e o cenário vasto, Kerry Condon e Barry Keoghan completam elenco brilhante
Por mais que poucas pessoas possam ter vivido algo tão drástico quanto em Inisherin, o filme traz o absurdo para explorar o mais básico e banal de qualquer relacionamento (amizade ou até amoroso), com todos os problemas pessoais de cada parte e os desafios de superarmos tudo isso em prol da harmonia coletiva.
Pádraic estava certo em sua indignação? Ou ele era realmente MUITO chato? Colm agiu certo ou faltou simpatia para com seu ex-amigo? Siobhán foi a única sensata de fugir do tédio daquele lugar? Você arrancaria os dedos para nunca mais ter que falar com alguém?
São perguntas e discussões aleatórias – mas hilariamente ricas – que só esse trabalho peculiar poderia trazer. Deixamos as opiniões e perspectivas na conta de vocês, mas uma coisa é unânime: Os Banshees de Inisherin é um filme tão diferente que você não pode deixar de assistir! Corra agora para o cinema mais próximo!