Bilheterias americanas tem fim de semana histórico com três filmes de sucesso
Com os cinemas tomados de assalto por Moana 2, Wicked e Gladiador II, as bilheterias viveram um de seus melhores fins de semana da história.
Quatro anos atrás, pensava-se que ir aos cinemas era um hábito morto, ultrapassado. Que o futuro eram os serviços de streaming, prontos para substituir para sempre a experiência comunal da sala de cinema. Pois bem, uma vez que o fim da pandemia liberou as pessoas para ir ao cinema de novo, ficou provado que quando há algo que o público quer ver, ele irá comparecer às multidões. E quando esse algo não é apenas um mas dois ou mais filmes, os estúdios serão recompensados com números históricos na bilheteria, impressionantes até para os padrões pré-Covid.
Isso ocorreu neste fim de semana, que foi o feriado de Thanksgiving (Dia de Ação de Graças) nos EUA. As bilheterias foram lideradas por não apenas um mas três blockbusters: a animação da Disney Moana 2, o musical Wicked: Parte 1 e o épico de ação Gladiador II.
E isso sem falar em longas em cartaz há mais tempo que mostraram excelente sustentação (Operação Natal, O Melhor Espetáculo de Natal de Todos os Tempos, Venom: A Última Rodada) e os chamados “filmes de arte” que fizeram números impressionantes (como o novo drama do diretor Luca Guadagnino Queer).
Em resumo, tinha opção para todos os gostos. Aliás, os dois maiores filmes (Moana e Wicked) são ambos musicais de fantasia voltados especialmente para o público feminino. Apesar da sobreposição de seu público alvo, os dois tiveram o melhor desempenho possível.
Com tantos filmes fazendo excelentes números, a bilheteria americana teve o melhor Thanksgiving de todos os tempos: um total acumulado de US$ 416 milhões nos cinco dias do feriado, acima dos US$ 315 milhões do de 2018. Na ocasião, as bilheterias foram lideradas por WiFi Ralph, Creed II, O Grinch, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, entre outros.
Considerando somente os três dias do fim de semana (sexta, sábado e domingo), o faturamento acumulado de todos os filmes em cartaz foi de US$ 269 milhões – um dos maiores da história.
Moana 2: A segunda sequência animada de sucesso da Disney de 2024
Sequência do adorado filme de 2016, Moana 2 foi inicialmente pensado como uma série para o Disney+. No entanto, faltando menos de um ano para a estreia, a Casa do Mickey decidiu convertê-lo em um longa para os cinemas. Pois a verdade é que Moana 2 fará muito mais dinheiro para a Disney como um filme de lançamento tradicional (primeiro como um blockbuster para as salas de cinema e depois lançado no streaming) do que como uma série televisiva.
O longa arrecadou absurdos US$ 221 milhões entre quarta e domingo. É o maior total de cinco dias para um filme que abre na quarta-feira da história, superando os US$ 205 milhões de Super Mario Bros.
Somente entre sexta e domingo foram US$ 135 milhões, o maior fim de semana para uma animação da Walt Disney Animation, acima dos US$ 130 milhões de Frozen II. Entre animações de um modo geral, Moana 2 perde apenas para Mario (US$ 146 milhões), Divertida Mente 2 (US$ 154 milhões) e Os Incríveis 2 (US$ 182 milhões).
Provando que o fenômeno não está somente restrito aos EUA (ao contrário do filme abaixo), Moana 2 arrecadou outros US$ 165,3 milhões fora de lá, resultando numa abertura global de US$ 386 milhões. Trata-se da maior abertura da história para uma animação em países tão diversos quanto a França, Polônia, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Oman, Egito, Líbano, Nigéria, Sérvia e Turquia.
Curiosamente, o primeiro Moana não foi exatamente um sucesso do mesmo nível que sua sequência. Lançado no final de 2016, o longa arrecadou US$ 249 milhões nos EUA e US$ 395 milhões fora, num total global de US$ 643 milhões. Isso foi menos do que outras animações daquele ano, como Procurando Dory (US$ 1,028 bilhão) Zootopia (US$ 1,024 bilhão) e Pets: A Vida Secreta dos Bichos (US$ 875 milhões). No Oscar daquele ano, a heroína polinésia acabou derrotada por Zootopia.
No entanto, nos oito anos que se seguiram o público (em especial o infantil) redescobriu Moana em casa e o filme se tornou um clássico para a atual geração de crianças. Isso foi intensificado quando o Disney+ foi lançado, com Moana se tornando o filme mais assistido do streamer por meses. As crianças assistiam ao longa de novo e de novo, repetindo suas canções, de forma similar ao ocorrido com Frozen poucos anos antes (a diferença sendo que Frozen foi um sucesso bilionário nas bilheterias, com o dobro da arrecadação de Moana).
A lição que fica é: para faturar os números históricos de Moana 2, a Disney antes precisou arriscar e lançar o primeiro Moana. O mesmo vale para outras sequências de altíssima bilheteria, como Divertida Mente 2, Frozen 2, Os Incríveis 2… Ou seja, não dá para apostar apenas em sequências e esquecer ideias originais.
É bom para a Disney que, no futuro, continuações de Encanto, Elementos e Raya e o Último Dragão sejam eventos tão grandes quanto os novos Moana e Divertida Mente.
Wicked: Um sucesso histórico para os musicais
Wicked: Parte 1 agiu como se Moana 2 não existisse e conquistou a melhor bilheteria possível. Foram US$ 117,5 milhões no feriado prolongado de cinco dias e US$ 80 milhões entre sexta e segunda nos EUA.
O longa sofreu uma queda de apenas 30% em comparação com sua excelente estreia na semana passada. Trata-se de uma das menores quedas para um filme que abriu acima de US$ 100 milhões, juntamente com Top Gun: Maverick. Além disso, é o 16º maior segundo fim de semana da história.
No acumulado, Wicked possui US$ 262,4 milhões nos EUA/Canadá. Um total espetacular, que o coloca entre os maiores musicais da história. Comparando sua trajetória com filmes similares, é bem provável que Wicked termine acima dos US$ 400 milhões, possivelmente encostando nos US$ 500 milhões (o que o deixaria próximo dos remakes de A Bela e a Fera e O Rei Leão).
Entretanto, fora dos EUA o sucesso não é o mesmo: um acumulado de “apenas” US$ 97 milhões. Ou seja, 73% de sua receita veio dos Estados Unidos e Canadá, uma anomalia (geralmente em blockbusters a proporção que vem dos mercados estrangeiros é maior que a do mercado doméstico). Globalmente, Wicked possui US$ 359 milhões.
Por outro lado, o longa caiu apenas 40% em comparação com a semana anterior na bilheteria internacional. Ou seja, está tendo bom boca a boca fora dos Estados Unidos.
Já era de se esperar que, ao menos num primeiro momento, o fenômeno Wicked seria restrito aos EUA, uma vez que musicais da Broadway são algo da cultura norte-americana que nem sempre é replicado em outros países. Porém, as boas críticas e boca a boca decente podem impulsionar a carreira do longa estrelado por Cynthia Erivo e Ariana Grande nos mercados internacionais.
Gladiador 2: A maior bilheteria de Ridley Scott em quase uma década
Gladiador II arrecadou US$ 30,7 milhões entre sexta e domingo e US$ 44 milhões nos cinco dias do feriado. O filme caiu 44% em comparação com a semana anterior, porém já tem um acumulado de US$ 111,2 milhões na bilheteria americana.
Somado com outros US$ 209 milhões nos mercados internacionais e chega-se a um total de US$ 320 milhões global. Trata-se da maior bilheteria do diretor Ridley Scott desde Perdido em Marte (US$ 650 milhões em 2015).
Isso seria uma bilheteria decente para um épico histórico. Tal gênero foi trazido de volta à proeminência em Hollywood há duas décadas e meia graças justamente ao primeiro Gladiador (US$ 450 milhões em 2000). Entretanto, após sucessos (O Último Samurai, Troia) e fracassos (Cruzada, Rei Arthur, Robin Hood), os épicos voltaram à dormência. Afinal, fazer tais filmes é bastante caro mesmo nos anos 2000, e se Hollywood for investir tamanha soma, é mais seguro gastá-la num gênero em que o sucesso é mais garantido – como filmes de super-heróis.
Agora Scott tenta ressuscitar os épicos antigos da mesma forma que há 24 anos atrás. A tentativa anterior do diretor, Napoleão, não foi exatamente o sucesso que ele e a Apple TV esperavam. Portanto, Scott resolveu “apelar” e fazer uma sequência do longa que fez épicos históricos populares novamente em 2000.
Nessa missão, o diretor convenceu a Paramount (substituindo os estúdios do Gladiador original: a DreamWorks e a Universal) a liberar um orçamento monstruoso: US$ 250 milhões. Claro, como dito acima, épicos não são baratos: ajustado pela inflação, o custo de US$ 103 milhões do primeiro Gladiador seriam US$ 206 milhões. Os US$ 150 milhões gastos para fazer Troia em 2004 equivalem a aproximadamente US$ 260 milhões ajustados.
Ou seja, Gladiador II tem que no mínimo igualar os US$ 450 milhões de seu predecessor (que na época foram a segunda maior bilheteria do ano, hoje em dia não serve nem para um posto no top 10 de 2024) se não quiser ser visto como decepção. Aliás, para dar lucro mesmo, Gladiador II teria que substituir Perdido em Marte como o maior sucesso comercial de Scott.
Dito isso, o filme tem boas perspectivas à frente. Com Wicked e Moana competindo pelo público feminino e familiar, Gladiador II vai se firmando como o grande filme de ação da temporada de fim de ano. E os filmes que poderiam substituí-lo nesse quesito não aparentam que serão grandes sucessos de bilheteria. Kraven o Caçador é mais uma tentativa da Sony de emplacar um filme dos vilões do Homem-Aranha sem o próprio herói. O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim é algo nunca feito antes: transformar uma grande franquia de Hollywood em um anime para os cinemas.
Portanto, como o mais caro do trio de ouro deste Thanksgiving, Gladiador II precisará de sustentações muito boas nas bilheterias se não quiser ser um fracasso.
Conclusão
Independentemente da carreira de cada filme, o fato é que existem opções para todo mundo nas bilheterias. E quando isso acontece a audiência vai comparecer aos cinemas não importa quantos serviços de streaming existam. Esta é a principal lição de Barbenheimer: façam filmes diversos e interessantes para diferentes grupos demográficos.
Vamos ver se Hollywood irá segui-la nos próximos anos.
Fontes: Box Office Pro, Box Office Mojo, The Numbers