Bilheteria EUA: Ford vs. Ferrari lidera; As Panteras tem estreia desastrosa!
Foi um fim de semana de surpresas nas bilheterias, tanto negativas quanto positivas. Por um lado, Ford vs. Ferrari teve uma estreia acima até mesmo das expectativas mais otimistas....
Foi um fim de semana de surpresas nas bilheterias, tanto negativas quanto positivas. Por um lado, Ford vs. Ferrari teve uma estreia acima até mesmo das expectativas mais otimistas. Por outro, o novo As Panteras afundou de maneira patética e humilhante, e vai ser mais um fiasco de bilheteria a se juntar aos numerosos que estrearam nas últimas semanas.
Enfim, liderando as bilheterias está o drama de corridas baseado em fatos reais, comandado pelo diretor de Logan James Mangold e estrelado por Matt Damon e Christian Bale, e que foi produzido pela Fox antes de ser comprada pela Disney. Até então, a grande maioria dos filmes do clássico estúdio de Alien e Os Simpsons após serem adquiridos pela Casa do Mickey foram fiascos de bilheteria como X-Men: Fênix Negra e Ad Astra, portanto, a Disney mantinha expectativas pessimistas para Ford vs Ferrari, de pouco menos de US$ 20 milhões.
Felizmente, o longa, recebido com ótimas críticas, estreou com bons US$ 31,4 milhões nos Estados Unidos. É uma abertura promissora, especialmente quando levamos em consideração sua incrível nota média de A+ (equivalente a um 10/10 no Brasil) no site CinemaScore, concedida pelo próprio espectador após assistir ao filme. Trazendo dois astros famosos e queridos nos papéis principais, Ford vs Ferrari atraiu uma audiência majoritariamente masculina, branca e mais velha, com 79% do público tendo mais de 25 anos e 55% mais de 35 anos.
Por outro lado, os executivos da Fox, agora respondendo à impiedosa Disney, não podem comemorar ainda: Ford vs Ferrari ainda tem uma longa batalha à frente, tanto em termos de ser um concorrente relevante na próxima temporada do Oscar quanto em trazer lucros ao estúdio. O filme, afinal, custou quase US$ 100 milhões, um valor absurdo para um drama biográfico de época, e também um investimento arriscado numa era onde boa parte do público só assiste a blockbusters de super-heróis, algumas animações, alguns filmes terror e os remakes dos clássicos da Disney nos cinemas.
Como disse o próprio diretor Mangold em entrevista ao Deadline: “é difícil fazer um filme com temas adultos hoje em dia. A ideia de fazer um longa adulto que não é barato é uma batalha realmente difícil”. Por isso, segundo o cineasta, a ênfase tinha que ser em entregar uma obra de qualidade. “Pessoas acima dos 30 anos não saem de casa a não ser que elas ouçam que é bom”.
Com uma resposta incrivelmente positiva, Ford vs Ferrari pode vir a ter uma longa carreira nas bilheterias americanas. Cinéfilos mais velhos, afinal, não costumam correr para os cinemas no fim de semana de abertura da mesma forma que nerds loucos para assistir a resolução da batalha dos Vingadores contra Thanos antes de tomarem spoilers na internet. O melhor dos casos seria o que houve com o último grande sucesso da Fox como estúdio independente antes da aquisição: Bohemian Rhapsody. A premiada biografia de Freddie Mercury estreou com US$ 51 milhões em novembro do ano passado e se tornou o grande filme adulto do final de 2018, tendo uma longa carreira em meio a uma batalha brutal de longas de aventura para jovens (Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, Aquaman, Homem-Aranha no Aranhaverso, etc) e eventualmente saindo de cartaz com incríveis US$ 216,4 milhões.
Uma performance parecida levaria Ford vs Ferrari a encerrar sua carreira com US$ 133,4 milhões nos EUA, o que seria bastante bom e posicionaria o longa como um dos principais filmes da próxima temporada de premiações. Porém, esta é a hipótese mais otimista, e nada garante que o drama de corridas vai ser o Bohemian Rhapsody de 2019, muito também porque outros longas estreiam nas próximas semanas para tentar disputar o público acima dos 35 anos, como Um Lindo Dia na Vizinhança (a história real de um famoso apresentador de TV infantil, interpretado por Tom Hanks) e Entre Facas e Segredos (suspense investigativo dirigido por Rian Johnson). E este público mais velho, vale lembrar, não costuma ser tão frequente nos cinemas, na maioria das vezes assistindo apenas a um filme nas telonas por mês, ou um a cada dois meses, e por aí vai.
De toda forma, a excelente recepção do público e da crítica é um sinal promissor de que Ford vs Ferrari, descrito como crowdpleasing (expressão usada para designar produções que agradam a um grande público) vai ter excelente boca a boca. Portanto, vamos ver se isso irá se traduzir em bons números nos próximos dias.
Por outro lado, quem não tem motivo nenhum para comemorar é a Sony. O estúdio aprofundou sua dependência do Homem-Aranha e seu universo este ano ao fracassar de maneira vexatória com algumas de suas franquias que até então costumavam ser confiáveis, como MIB: Homens de Preto: Internacional e agora este novo As Panteras. Comandado por Elizabeth Banks, o filme estreou com terríveis US$ 8,3 milhões. Como comparação, os dois filmes da franquia lançados em 2000 e 2003 estrearam com US$ 37 milhões e US$ 40 milhões, e isso numa época em que o preço médio dos ingressos era bem mais barato do que hoje. Em outras palavras, o público que pagou para assistir ao longa de 2019 foi uma mísera fração dos que pagaram para ver os de 2000 e 2003 em seus fins de semana de abertura.
A única coisa positiva que se pode dizer acerca deste reboot da clássica franquia de ação é que ela foi mais barata que os dois longas da década passada dirigidos por McG: enquanto eles custaram em torno dos US$ 100 milhões, a versão 2019 dos “anjos de Charlie” teve um orçamento entre US$ 48 milhões e US$ 55 milhões. Isso porque a diretora Banks quis fazer uma versão mais cômica e feminista da franquia, e não enfatizasse tanto cenas de ação exageradas e absurdas quanto a dos longas de McG.
Além disso, as novas Panteras Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska não possuem o mesmo estrelato que as anteriores (Drew Barrymore, Cameron Diaz e Lucy Liu) possuíam na época do lançamento dos longas. Stewart se tornou famosa entre garotas há cerca de uma década graças à Saga Crepúsculo, porém desde então havia se dedicado quase que exclusivamente a filmes do circuito artístico. Já Scott teve papéis de destaque no desastre Power Rangers e no bem sucedido Aladdin, enquanto Balinska era virtualmente uma desconhecida. Tratam-se de atrizes jovens e talentosas, com a carreira em ascensão, mas que traziam um problema mortal para o marketing da Sony: elas não tem lá uma presença muito forte nas redes sociais. Por incrível que pareça, a pessoa da equipe com a maior quantidade de seguidores nas redes é a diretora Banks, com quase 7 milhões de internautas a acompanhando no Facebook, Twitter e Instagram – Scott possui cerca de 3,4 milhões.
É um gigantesco problema para um longa que pretende atrair garotas adolescentes e jovens, que passam a maior parte do tempo conectadas às redes sociais. Muito provavelmente, por mais premiada no cinema francês que seja Stewart, ou por mais que Scott tenha atraído elogios como a nova Jasmine, a Sony iria preferir atrizes mais famosas. No entanto, a conversa que circulou em Hollywood é que o roteiro não conseguiu atrair alguns dos maiores talentos da indústria – nomes do calibre de Jennifer Lawrence, Margot Robbie e Emma Stone.
Assim, sabendo que a nova versão do filme atrairia apenas um segmento demográfico, de garotas e mulheres entre 13 e 39 anos (diferentemente dos longas de McG, que, graças às incessantes cenas de ação, atraiu também o público masculino) e, portanto, dificilmente chegaria aos números dos filmes anteriores, a Sony pagou por apenas 50% da produção do longa (o restante veio dos parceiros da 2.0 Entertainment e Perfect World). O estúdio também cortou pela metade os gastos com marketing, preferindo focá-lo na parte musical, como o hit “Don’t Call Me an Angel” (de autoria das cantoras Ariana Grande, Miley Cyrus e Lana Del Rey) e até mesmo a canção “Pantera” da artista brasileira Anitta.
Mesmo assim, o longa foi um desastre, e um ainda maior do que o previsto: as previsões iniciais eram de que o filme abriria em torno dos US$ 13 milhões. As críticas não foram exatamente terríveis (60% no Rotten Tomatoes), porém a resposta do público que efetivamente foi assistir ao filme foi medíocre: apenas um B+ no CinemaScore. Assim, com um provável fraco boca a boca e decepcionante recepção nas mídias sociais, o longa vai desaparecer rápido das bilheterias – se conseguir chegar aos US$ 25 milhões será um milagre.
Infelizmente, As Panteras é mais um filme que reafirma a tendência do mês nas bilheterias: franquias que ninguém quer ver afastando o público. Até então, novembro de 2019 tinha tudo para ser um mês forte, com Mulher-Maravilha 1984, 007: Sem Tempo Para Morrer e Frozen II. Porém, os dois primeiros se moveram para 2020, conforme eles perceberam que o ano que vem será menos competitivo, sem monstros de bilheteria da Disney no nível de Vingadores: Ultimato, Toy Story 4 ou O Rei Leão, para tirar-lhes espectadores. Com novembro vago, mudaram-se para lá filmes como O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio e este As Panteras (que originalmente estrearia em junho).
No entanto, tais filmes, assim como Doutor Sono, fracassaram miseravelmente. Antes deles, longas como Blade Runner 2049 e Zoolander 2 já haviam sido fiascos de bilheteria. E qual a lição disso tudo, que Hollywood se recusa a aprender? Que, por mais que em algum ponto da história do cinema o público tenha gostado dos longas do Exterminador, da série original d’As Panteras, ou de clássicos como O Iluminado e Blade Runner, o público atual simplesmente não tem o menor interesse em ver continuações ou reimaginações dessas histórias. Ou, melhor, que o interesse de um punhado de nerds de cinema e fanáticos por filmes antigos barulhentos nas redes sociais não se traduz em um interesse do restante do público.
O problema é que Hollywood vê o sucesso absurdo de longas como Jurassic World, Jumanji: Bem-Vindo à Selva ou os Star Wars da Disney e então crê que literalmente toda franquia antiga pode ser ressuscitada com o mesmo sucesso. É por isso que no ano que vem teremos um novo Top Gun, um novo Caça-Fantasmas (a despeito do reboot de 2016 ter sido um desastre), e por aí vai. No entanto, a triste verdade é que a grande maioria das franquias clássicas só atrairia alguns cinéfilos nostálgicos, e atualizá-las de uma forma que seja relevante para a nova geração (como a Sony foi bem sucedida em fazer com Jumanji, porém falhou ao tentar a mesma coisa com MIB e As Panteras) é uma tarefa que costuma dar mais errado do que certo.
A outra estreia da semana foi o suspense da Warner A Grande Mentira. Estrelado por Helen Mirren e Ian McKellen, o filme atraiu um público majoritariamente acima dos 50 anos de idade. Infelizmente, sua abertura foi outro desastre, com o longa arrecadando apenas US$ 5,6 milhões. É uma quantia decepcionante, porém tal longa não foi caro e, como dito acima, a audiência mais velha não corre aos cinemas durante a estreia.
Bilheteria EUA 15/11/19 a 17/11/19:
Filme | Semanas em cartaz | Renda no fim de semana (em US$) | Renda acumulada (em US$) |
1- Ford vs Ferrari | 1 | 31.474.958 | 31.474.958 |
2- Midway: Batalha em Alto Mar | 2 | 8.505.531 | 34.896.304 |
3- As Panteras | 1 | 8.351.109 | 8.351.109 |
4- Brincando com Fogo | 2 | 8.332.607 | 25.280.431 |
5- Uma Segunda Chance para Amar | 2 | 6.493.930 | 22.369.695 |
6- Doutor Sono | 2 | 6.006.949 | 24.865.108 |
7- A Grande Mentira | 1 | 5.605.051 | 5.605.051 |
8- Coringa | 7 | 5.338.389 | 322.302.982 |
9- Malévola: Dona do Mal | 5 | 4.900.000 | 105.693.384 |
10- Harriet | 3 | 4.590.540 | 31.693.530 |