Bilhereria EUA: Star Wars: A Ascensão Skywalker não deve ultrapassar Rogue One
Por um lado, de um modo geral, Star Wars: A Ascensão Skywalker ficará entre as maiores bilheterias da história, nem que seja no ranking americano. Por outro, uma análise...
Por um lado, de um modo geral, Star Wars: A Ascensão Skywalker ficará entre as maiores bilheterias da história, nem que seja no ranking americano. Por outro, uma análise mais cuidadosa de seus números mostram descontentamento e decepção dos fãs e desinteresse do público em geral, o que pode ser problemático para a saga, ao menos no futuro imediato.
O filme faturou mais US$ 15,1 milhões em seu quarto fim de semana em cartaz nos EUA. No total, o longa já arrecadou US$ 478,2 milhões na bilheteria americana. Nos últimos dias, ele superou as bilheterias não ajustadas de seus antecessores Uma Nova Esperança (US$ 460 milhões, conquistados através de alguns relançamentos posteriores à sua abertura original, em 1977) e A Ameaça Fantasma (US$ 474,5 milhões, incluindo os valores de seu relançamento em 3D em 2012). Além disso, A Ascensão Skywalker superou a bilheteria ajustada pela inflação de Ataque dos Clones (US$ 310 milhões em 2002, US$ 477 milhões ajustados), e agora é o oitavo dentre os nove Episódios da tal Saga Skywalker que mais venderam ingressos na América do Norte – e o nono, quando incluímos o spin off Rogue One.
Infelizmente para o Episódio IX, as boas notícias param por aí. O filme caiu 56% em comparação com sua semana passada, o que não é bom quando comparado com os outros longas de sua franquia e com blockbusters de dezembros passados. Os Episódios VII e VIII caíram em torno de 53% e 54%, enquanto Rogue One caiu 55%. Já longas como O Retorno do Rei, As Duas Torres e Aquaman decaíram menos de 50% cada um, enquanto A Sociedade do Anel caiu apenas 30%. O único que teve uma queda bem similar à de A Ascensão Skywalker foi outro controverso final de uma adorada saga de fantasia, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, que despencou 57%.
Para piorar a situação, todos os outros filmes anteriores da franquia espacial lançados em dezembro tiveram arrecadações superiores ao Episódio IX em seus quartos fins de semana. O Despertar da Força faturou US$ 42,3 milhões, Os Últimos Jedi arrecadou US$ 24 milhões e Rogue One, US$ 22 milhões. Até mesmo Aquaman teve um quarto fim de semana maior que A Ascensão Skywalker, com US$ 17,3 milhões.
Mesmo quando comparado a outros sucessos de bilheteria que não abriram em dezembro, a performance de A Ascensão Skywalker tem sido fraca. Basta dizer que a queda do longa no quarto fim de semana é a segunda maior para um filme que estreou com mais de US$ 100 milhões, atrás apenas de Batman vs Superman, que despencou 61%. Ainda assim, o filme de Zack Snyder ao menos tinha a desculpa de estar concorrendo com um outro blockbuster na ocasião, o remake de Mogli: O Menino Lobo. O principal adversário de A Ascensão Skywalker neste fim de semana foi o bem recebido drama de guerra 1917, mas compare as aberturas de ambos: enquanto 1917 estreou com US$ 37 milhões, Mogli arrecadou US$ 103 milhões. Ou seja, nenhum grande megasucesso do calibre da aventura do Menino Lobo. Aliás, 1917 ainda estava em cartaz em menos salas nos EUA do que o nono Star Wars, enquanto Mogli já havia tomado muitas das salas de BvS, especialmente as salas premium como IMAX, o que só torna a coisa toda ainda mais vexatória para A Ascensão Skywalker.
Em questão de quedas a cada fim de semana, o desempenho do Episódio IX está sendo curiosamente similar ao de Capitão América: Guerra Civil, o bem recebido longa do MCU que, apesar das boas críticas, estreou com US$ 179 milhões e saiu de cartaz com US$ 408 milhões, tornando-se infamemente o filme da Marvel de pior desempenho após o fim de semana de abertura na bilheteria americana. “Mas se é assim”, você pode perguntar, “como A Ascensão Skywalker, cuja estreia (US$ 177 milhões) foi menor que a de Guerra Civil, já arrecadou no total muito mais que o filme da Marvel?”.
A resposta está na data de estreia de ambos: enquanto o nono Star Wars chegou em dezembro, logo no meio das festas de fim de ano, o terceiro Capitão América estreou em maio, assim como é o costume para os maiores filmes do MCU. Inclusive, A Ascensão Skywalker teve uma vantagem desfrutada por poucos longas antes (entre eles os titãs O Despertar da Força, Avatar e Titanic): sair de seu fim de semana de abertura direto para a semana das festividades natalinas, quando mais pessoas estão de folga e tem mais disponibilidade para ir aos cinemas. O Episódio IX aproveitou-se desta oportunidade e teve um desempenho nos dias de Natal melhores que os de Os Últimos Jedi (cujo primeiro domingo foi no dia 17 de dezembro, logo ele não teve a mesma vantagem). Com isso, ele encerrou sua segunda semana com US$ 362 milhões, apenas US$ 6 milhões a menos que o Episódio VIII após o mesmo período de tempo e, claro US$ 66 milhões a mais que Guerra Civil, que, por ter estreado em maio, quando as pessoas estão ocupados com trabalho, faculdade e escola, não teve os mesmos dias turbinados do Natal.
Passado esse período, porém, o longa despencou violentamente. Para se ter uma ideia, se, como dito acima, na segunda semana ele estava quase alcançando Os Últimos Jedi, na quarta ele está praticamente empatado com o que Rogue One havia arrecadado após o mesmo período de tempo (US$ 477 milhões) – e vale lembrar que o spin off lançado em 2016 encerrou sua carreira com quase US$ 90 milhões a menos que o Episódio VIII.
Podemos concluir então que a única coisa que impediu A Ascensão Skywalker de colapsar totalmente após a abertura foi o período de bonança do Natal. Agora que ele já acabou, porém, é esperado que o filme despenque totalmente, frente à competição com os filmes do Oscar e enfrentando controversa recepção dos fãs e desinteresse do público em geral.
A Ascensão Skywalker inclusive está correndo o risco de ser ultrapassado por Jumanji: Próxima Fase nos próximos dias na bilheteria diária e do fim de semana. Os Últimos Jedi eventualmente também passou a faturar menos que Jumanji: Bem-Vindo à Selva nos fins de semana, porém ao menos o capítulo anterior tinha a desculpa de que o segundo Jumanji havia chegado aos cinemas cinco dias após sua estreia. Já no caso de A Ascensão Skywalker, Próxima Fase estreou uma semana antes do Episódio IX, portanto seria extremamente humilhante se a comédia estrelada por The Rock e Kevin Hart, produzida por uma fração do preço dos longas espaciais da Lucasfilm, o ultrapassasse nos números diários.
Assim, caso ele desempenhe como os citados Guerra Civil e A Batalha dos Cinco Exércitos daqui para a frente, sai de cartaz com entre US$ 517 milhões e US$ 523 milhões. Isso seria abaixo da bilheteria final de Rogue One (US$ 532 milhões) entre os filmes de sua saga e também da de O Rei Leão (US$ 544 milhões) entre as maiores bilheterias de 2019. Ah, também seria abaixo dos números ajustados pela inflação de A Vingança dos Sith (US$ 530 milhões), de forma que A Ascensão Skywalker seria o um dos piores filmes da saga em vendas de ingressos na América do Norte, superando apenas Ataque dos Clones, o desastre Han Solo e a animação lançada nos cinemas The Clone Wars.
Claro, pode ser que o filme não se saia tão mal assim. Vale lembrar que, em janeiro de 2015, um mês após a chegada de A Batalha dos Cinco Exércitos, o público compareceu em peso para assistir Sniper Americano, o sucesso de Clint Eastwood que ainda hoje é a maior bilheteria americana para um filme lançado no primeiro mês do ano. 2020 não parece ter nenhum grande sucesso do tipo, deixando para A Ascensão Skywalker o caminho mais livre do que o que o terceiro longa do Hobbit teve.
Logo, uma performance mais similar à Rogue One pós-quarta semana leva o filme a US$ 533,2 milhões, US$ 1 milhão a mais que o longa de 2016. Ainda assim, o longa não superaria O Rei Leão, e teria de se contentar em ser apenas a terceira maior bilheteria americana de 2019, atrás do remake de Simba e Mufasa e do inalcançável Vingadores: Ultimato (US$ 858 milhões).
Os resultados do filme na bilheteria internacional também são fracos: US$ 511,6 milhões, bem abaixo de longas como Homem-Aranha: Longe de Casa (US$ 741 milhões), Coringa (US$ 735 milhões), Capitã Marvel (US$ 701 milhões), Aladdin (US$ 695 milhões) e Toy Story 4 (US$ 640 milhões). É possível argumentar que a grande maioria desses longas foram extremamente bem sucedidos na China, e de fato foram, enquanto A Ascensão Skywalker, tal como os outros longas da franquia espacial, foi praticamente ignorado no país, o segundo maior mercado cinematográfico do planeta. No entanto, Coringa nem chegou a ser lançado na China enquanto Toy Story 4 também afundou no país, logo não dá para usar apenas os chineses como desculpa.
E aliás, Os Últimos Jedi também foi lançado (e naufragou) na China, e ainda assim já tinha chegado a US$ 632 milhões fora dos EUA em sua quarta semana. Então sim, a culpa não é só da China, o que ocorreu foi uma perda acentuada de interesse pela franquia nos EUA e fora de lá. Na bilheteria americana, tal perda ao menos foi mitigada pelo período de bonança das festividades de fim de ano, mas nem isso será suficiente para impedir uma queda dura em relação à seu antecessor, e talvez nem para que o longa ultrapasse Rogue One – que, lembrando, foi um spin off, ambientado quase 35 anos antes dos eventos da atual trilogia, que não trazia nenhum personagem icônico da saga entre os protagonistas.
No total, A Ascensão Skywalker possui US$ 990 milhões globalmente. Ou seja, após quatro semanas em cartaz, o filme ainda não bateu a marca do bilhão – Os Últimos Jedi já havia atingido tal feito entre a segunda e a terceira semana. Sendo otimistas e supondo que a proporção da bilheteria final entre a americana e internacional será de pouco mais de 47% para os EUA e 53% para fora de lá, podemos imaginar que os números globais de A Ascensão Skywalker ficarão entre US$ 1.09 bilhão e US$ 1.127 bilhão, superando Aladdin, Coringa e Toy Story 4, mas não Capitã Marvel (US$ 1.128 bilhão) e Longe de Casa (US$ 1.13 bilhão), e muito menos Frozen II (US$ 1.37 bilhão até o momento), O Rei Leão (US$ 1.66 bilhão) e Ultimato (US$ 2.8 bilhões) entre os filmes de 2019.
É preciso deixar claro que A Ascensão Skywalker não é nenhum fracasso de bilheteria, e vai gerar dinheiro para a Disney. No entanto, seu desempenho terrível excluindo os dias de Natal, sua queda gigantesca em relação aos anteriores nos EUA e fora de lá, a controversa recepção dos fãs e as péssimas críticas recebidas pelo filme certamente vão acender a luz vermelha na Casa do Mickey, que vai precisar tomar atitudes drásticas se quiser que sua cara franquia espacial volte a ser a recordista de bilheteria que a Disney deseja que ela seja.