[CRÍTICA] O Irlandês não é longo demais, você que é fresco!
O Irlandês chegou chegando na Netflix no meio dessa semana. Afinal, bastou o filme estrear no streaming que toda uma nova polêmica se criou a partir disso. Entretanto, essa...
Compartilhe: Elvis de Sá
Publicado em 30/11/2019 - 16h52
O Irlandês chegou chegando na Netflix no meio dessa semana. Afinal, bastou o filme estrear no streaming que toda uma nova polêmica se criou a partir disso. Entretanto, essa não é a primeira delas. Já que o novo filme de Martin Scorsese vem atraindo atenção para si há certo tempo.
Seja a polêmica da Marvel vs Scorsese, Cinema ou não cinema, uso de CGI em “filme arte”. Todas essas se tornaram pouca coisa diante da mais recente, que é sobre a longa duração do filme. Com 3 HORAS E 30 MINUTOS, muitas pessoas estão surtando achando o filme longo e muito cansativo.
Não serei leviano ou precipitado, pois não há como mensurar se essas críticas são apenas do público casual da Netflix, ou se vale também para os “mais chegados” ao cinema de Scorsese. Mas de qualquer forma ela vem sempre carregada de certa hipocrisia, falta de conhecimento, e até falta de respeito.
Primeiramente, a pior parte de toda essa polêmica se dá pelo fato do filme em si ficar em segundo plano. Pouco se discute sobre a trama, realidade x ficção, máfia, retorno de Joe Pesci. Tudo isso se tornou um mero gancho para as pessoas debaterem se vão, ou não, pausar o filme para ir fazer xixi.
Quando você consegue assistir 3h30 de filme sem ir ao banheiro.
Embora sejamos quase que obrigados a comentar sobre essas repercussões, vamos falar sobre o filme! De fato, a longa duração é quase que um personagem do longa, mas por outros motivos. Já que estamos falando da primeira vez em que Scorsese faz um filme para um serviço de streaming, com toda a liberdade do mundo.
Na Netflix os criadores possuem uma liberdade fora do comum para com suas obras. Não há a burocracia e exigências dos estúdios em relação à duração. Portanto, O Irlandês ter 3h30 é um puro sinal de que estamos vendo um Scorsese completamente livre, à vontade. E esse fator de novidade era algo pelo qual criava-se muita curiosidade pelo filme: Como Scorsese se comportará sem essas amarras, nesse novo mundo?
Felizmente, a resposta para essa pergunta foi altamente positiva. O filme é longo? É! Mas há todo um motivo para ele ser assim. Ele possui um ritmo meio arrastado, que à primeira vista pode até parecer que Scorsese está pesando a mão, cedendo ao exagero.
Mas quando o filme acaba, a certeza que fica é que tudo o que foi visto em tela, foi altamente necessário. Seja pelo entendimento da trama, a construção do drama pessoal dos personagens e assim como necessário para nos imergir o máximo possível dentro de todo aquele universo.
Robert De Niro: rejuvenescido e lindo
Se estamos falando da história de um homem ao longo de várias décadas, é quase que obrigatório que essa passagem de tempo seja representada com a maior eficiência possível. Não se trata de uma cinebiografia de alguma estrela de música, onde basta contar algumas curiosidades e ir pulando 5 anos a cada minuto.
Nesse sentido, O Irlandês tem todos os méritos por se construir como uma montanha russa. Ele começa como a clássica história de ascensão de um homem no mundo do crime, se transforma em uma complexa trama política, e após todos esses anos, temos um melancólico relato sobre uma pessoa em final de vida, ponderando tudo o que havia feito.
E toda essa reta final é o que eleva o filme ao merecer o Selo Scorsese. Não me leve a mal, toda a parte da ascensão é divertida e bastante envolvente, mas não funciona num nível de pico de adrenalina como qualquer outro filme do diretor faz. Mas não há como negar o quão mágicos Robert De Niro e Joe Pesci são em cena, a câmera gruda neles, e não há mais nada que você precise assistir além dos dois juntos.
A maior surpresa do filme, é quando o personagem de Joe Pesci começa a ficar de escanteio, e temos a crescente e enérgica aparição de Al Pacino, que entrega a sua melhor atuação em muitos anos. O curioso, e é aí onde Scorsese prova seu valor como um mestre nos filmes do gênero. Embora Al Pacino esteja incrível como Jimmy Hoffa, nas entrelinhas, com descrição e calma, é onde o arco dramático de Frank Sheeran começa a ganhar peso.
A Trindade
Frank Sheeran trilha seu próprio caminho, conquista a amizade e confiança de Jimmy Hoffa, o que o coloca em um caminho de escolhas difíceis, entrando em rota de colisão com Russell Bufalino e todos seus amigos mais antigos que possibilitaram que ele chegasse ali.
O auge desse conflito é um velho dilema de moralidade e lealdade nas histórias de mafiosos. Já que Frank é ordenado por um velho amigo, a matar um outro velho amigo. Não há nada que você possa fazer quando entra nesse jogo, e Frank obedece. A cena onde ele mata Jimmy Hoffa é um tiro que impacta e ecoa tanto em quem assiste, quanto no resto do filme.
Se até então você possa estar cansado com a lentidão do filme, após isso você fica é querendo mais tempo! Todas as consequências desse assassinato se misturam com o fechamento do arco narrativo de Frank Sheeran, e é silenciosamente impactante. Após os anos de glória, chega a hora de ver a queda e o preço de todas as escolhas feitas até então.
Frank perde um grande amigo, o tempo leva sua esposa, suas escolhas no passado o tornaram em alguém distante de suas filhas. E no asilo, vê seus antigos companheiros morrendo, até que não restasse ninguém de seu antigo império. É esse amargo fim de arrependimentos e despedidas que justificam totalmente a longa duração do filme, assim como acrescenta um elemento a mais em relação aos outros filmes de máfia do diretor.
De Niro e Scorsese nos sets do filme
Portanto, nesse sentido ‘O Irlandês’ funciona quase como ‘Era Uma Vez em Hollywood’, onde vemos dois diretores experientes lidando com temas recorrentes de suas obras, mas como uma abordagem mais amadurecida. Ver Scorsese trazer algo ‘novo’ em um filme aos moldes de seus clássicos, é algo que precisa ser reconhecido.
Nas atuações, Robert De Niro segura muito bem o protagonismo do filme, sem ficar atrás de seus coadjuvantes de luxo: Pacino e Pesci. Embora Pacino tenha sido o meu favorito, foi uma baita surpresa, somada ao argumento do amadurecimento, ver Pesci retornando às telas e fazendo um personagem um pouco de fora do padrão que lhe fizera tão renomado.
Não temos aqui o baixinho estressado, nervoso e agressivo de Os Bons Companheiros, mas completamente o oposto. Pesci volta às telas menos explosivo, mas ainda mais talentoso! A única ressalva sobre tudo isso, que muitos podem optar por passar o pano, é a quase inexistência de importância nas personagens femininas.
Embora as esposas dos mafiosos não tenham relevância na narrativa, a importância de Peggy, filha de Frank, não é trabalhada de acordo com o desfecho pretendido. Peggy possui um papel fundamental na resolução do filme, mas nem isso lhe concede algum momento de real destaque.
Apesar do vacilo, algo que se esperava ser desastroso acabou dando muito certo: a CGI do filme! O filme não apela ao estilo Marvel de rejuvenescer os atores de maneira absurda, então não temos um Robert De Niro dos anos 70, mas a sua versão mais jovem realmente convence!
Sim, a CGI na cara do Robert De Niro é PERFEITA!
O trabalho em cima de rejuvenescer De Niro e Pesci funciona tanto que você poderia facilmente enganar alguém dizendo que é tudo trabalho intenso de maquiagem! Apesar da sua relutância com os blockbusters e novas tecnologias, Scorsese lidou muito bem com elas.
Em comparação aos clássicos de Scorsese como Cassino e O Lobo de Wall Street, O Irlandês não tem o mesmo apelo, mas singularmente ele controla seus próprios excessos e se consolida como um grande filme. Obviamente, diferente dos outros citados, esse depende muito mais da sua disposição prévia a querer embarcar em uma viagem tão longa, mas bastante significativa.
Portanto, não o desmereça. Caso não esteja no clima e com paciência para encarar algo assumidamente longo e tão específico, talvez seja melhor admitir o seu problema com isso, e ficar longe do filme. Em uma última polêmica: nós do Legado+ assistimos o filme nos cinemas. O que não será o caso da maior parte de quem o verá.
Mas seja na Netflix, na telona do cinema, no computador, ou até mesmo no celular, vale todo o esforço para prestigiar Scorsese em grande forma, assim como a oportunidade de prestigiar lendas vivas do cinema em atuações impecáveis. Nessa investida, a Netflix merece todo o respeito dos amantes do cinema!
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Confira a sinopse do longa: “Conhecido como “O Irlandês”, Frank Sheeran (Robert De Niro) é um veterano de guerra cheio de condecorações que concilia a vida de caminhoneiro com a de assassino de aluguel número um da máfia. Promovido a líder sindical, ele torna-se o principal suspeito quando o mais famoso ex-presidente da associação desaparece misteriosamente.” Com um elenco de veteranos parceiros de Scorsese, o filme já está disponível no catálogo da Netflix!