Animação da Pixar supera abertura ruim e se torna um sucesso de bilheteria
Elementos, o novo longa da Pixar, superou prognóstico ruim para animações originais, críticas negativas em Cannes e abertura fraca para se tornar um sucesso de bilheteria.
Compartilhe: Tiago
Publicado em 24/9/2023 - 22h00
A última vez em que tivemos uma animação baseada numa ideia original, que não seja uma sequência de um sucesso do passado ou adaptação de uma marca famosa (como Super Mario Bros.: O Filme e Homem-Aranha: Através do Aranhaverso), que sequer fizesse mais do que US$ 300 milhões na bilheteria global, foi entre 2017 e 2018, quando Viva: A Vida é uma Festa, chegou a US$ 807 milhões com uma grande ajuda da China.
No entanto, em 2023 essa má fase foi quebrada com Elementos.
Dependendo de sua idade, você pode ter crescido numa época onde todos os anos havia uma novidade da Disney (O Rei Leão, Hércules, Mulan, Tarzan e mais recentemente Enrolados, Frozen e Moana), da Pixar (Toy Story, Vida de Inseto, Monstros S.A., Procurando Nemo, Os Incríveis, Ratatouille, etc), da DreamWorks (Shrek, O Espanta Tubarões, Madagascar, Como Treinar o seu Dragão…), Blue Sky (A Era do Gelo, Robôs, Rio), entre outros.
Claro, alguns desses filmes eram baseados em livros infantis, contos de fadas ou outras histórias de domínio público (como O Rei Leão, que famosamente se inspirou em Shakespeare). Mas ainda não eram as grandes franquias com diversas continuações que são hoje.
Porém, a partir da década passada, Hollywood aproveitou-se da nostalgia de jovens adultos para aumentar a produção de sequências de sucessos do passado. Não que continuações de animações fossem algo inédito (Toy Story 2 e Shrek 2 já tinham provado a viabilidade de fazer mais aventuras com personagens amados pelo público), mas somando a audiência de jovens millenials nostálgicos com o tradicional público familiar elevaram a bilheteria de sucessos como Procurando Dory, Os Incríveis 2 e Toy Story 4 para acima da marca do bilhão.
E se entre 2015 a 2017 ainda haviam alguns originais capazes de competir de igual para igual com as sequências (Divertida Mente, Zootopia, Moana, Viva), a partir de 2018 numerosas continuações que variavam de hits bilionários como Frozen II a decepções como Uma Aventura Lego 2, passando por Como Treinar seu Dragão 3, Wi-Fi Ralph: Quebrando a Internet, entre outros.
Quando Hollywood (e, especificamente, a Disney) estava pronta para voltar a apostar em originais, veio a pandemia e prejudicou os planos de toda a indústria do entretenimento. Visando aumentar a visibilidade de seus recém-lançados serviços de streaming, animações baseadas em ideias originais como Soul, Luca e Red: Crescer é uma Fera saíram direto para ver em casa. Outros como Raya e o Último Dragão e Encanto até receberam lançamentos nos cinemas, porém, prejudicados pela pandemia, só se tornaram hits quando chegaram ao Disney+, principalmente o segundo.
Conforme o público ia voltando às salas, parecia que a audiência retomaria o comportamento de 2018-19 e só compareceria para sequências/spin-offs, como Minions 2, Sing 2 e Gato de Botas 2, ou adaptações, como Super Mario Bros. A Disney, porém, fez uma última tentativa e declarou que suas animações originais de 2023, no caso Elementos e Wish: O Poder dos Desejos, teriam lançamentos tradicionais no cinema e só chegariam ao Disney+ depois de meses.
A Casa do Mickey fez de tudo para que Elementos superasse o prognóstico ruim para originais. Fez uma pesada campanha de marketing e uma pré-estreia no Festival de Cannes. Porém, este movimento na verdade acabou prejudicando o longa, que foi recebido com reviews ruins vindas dos críticos presentes.
Tudo isso culminou numa abertura pavorosa nas bilheterias em junho: míseros US$ 29,6 milhões nos EUA.
No entanto, durante uma temporada de verão estranhamente desprovida de filmes infantis, Elementos conseguiu se recuperar, mostrando sustentação notável em diversos mercados, incluindo o Brasil (país no qual o filme vendeu mais de 4 milhões de ingressos, a primeira vez que um original chegava tão alto desde Moana em 2017), a Coréia do Sul e, claro, os Estados Unidos. O longa chegou a um total de US$ 154,4 milhões na bilheteria americana e US$ 332,4 milhões nos mercados internacionais, resultando em US$ 487 milhões global, um total acima do de Gato de Botas 2 (US$ 481 milhões).
O filme parece ter ressoado entre a audiência fora dos EUA, com um total internacional acima do de outros longas deste ano também voltados para famílias como Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (US$ 308,5 milhões, resultando em US$ 690 milhões global) e A Pequena Sereia (US$ 271,4 milhões, de um total global de US$ 569 milhões).
A mídia definiu Elementos como um autêntico sleeper hit: aquele filme de abertura decepcionante mas que, ao longo de um período estendido de tempo, acaba alcançando uma bilheteria surpreendente.
Seria um renascimento para animações originais? Apesar da história de superação nas bilheterias de Elementos, há o fato incômodo de que o filme foi caro demais, tendo custado, tal como é comum na Disney/Pixar, US$ 200 milhões, isso fora os custos de produção. Sim, as animações da Casa do Mickey também tem receita vinda do streaming, produtos licenciados, etc., que vão contribuir para que Elementos seja lucrativo para a Disney.
Porém, com o CEO Bob Iger preocupado em voltar o estúdio à lucratividade de antes, já determinou que o foco da empresa deva ser, adivinha só, mais continuações de Toy Story, Frozen e Zootopia.
Ainda há mais duas animações originais da Disney programadas para os próximos meses: o citado Wish: O Poder dos Desejos e Elio. A estrada rumo ao sucesso para esses filmes promete ser dura: há a greve da SAG-AFTRA, que impede que o elenco promova os longas, e a competição com outros blockbusters. Um dos motivos da recuperação de Elementos, afinal, foi a falta de outros concorrentes mais fortes pelo público infantil, com boa parte dos blockbusters da atual temporada sendo voltados para os mais grandinhos (Indiana Jones 5, Missão: Impossível 7, a dupla Barbenheimer, etc).
Mas e você? Acha que o público vai voltar a ver mais filmes originais na telona? Comente aí embaixo!