Ainda Estou Aqui e O Auto da Compadecida 2 já foram vistos por mais de 3 milhões de pessoas
Nada menos que dois filmes brasileiros alcançaram marcas na bilheteria nacional que não eram vistas desde antes da pandemia.
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Publicado em 20/1/2025 - 15h00
Pouco antes da Covid 19 fechar as salas de cinema, o cinema nacional atingiu o sucesso histórico de Minha Mãe é uma Peça 3, que finalizou com 11,8 milhões de ingressos vendidos e R$ 185,5 milhões – a maior arrecadação da história para um filme nacional. Porém, a pandemia prejudicou gravemente a indústria de cinema nacional e também levou Paulo Gustavo, o campeão de bilheteria da última década no país.
O resultado foi que o cinema brasileiro passou os quatro anos seguintes incapaz de competir com os blockbusters estrangeiros. Quando a recuperação pós-pandemia das salas de cinema começou, foram os filmes hollywoodianos que a lideraram (com uma pequena ajuda de animes japoneses ocasionais e longas “de arte” europeus).
Filmes nacionais começaram a dar sinal de vida entre o final de 2023 e início de 2024 com Minha Irmã e Eu (o primeiro longa nacional pós-pandemia a atrair mais de 2 milhões de pessoas às salas) e Nosso Lar 2. Infelizmente, a maior parte do ano passado foi novamente dominada por longas americanos – até os últimos dois meses.
Ainda Estou Aqui estreou nas salas nacionais em novembro. O burburinho de Oscar, inclusive de Melhor Atriz para Fernanda Torres, manteve o longa entre os mais assistidos da semana na bilheteria do Brasil desde então. Nas duas últimas semanas, respectivamente a nona e a décima do longa em cartaz, a bilheteria de Ainda Estou Aqui registrou crescimentos consecutivos no público, chegando a 280% na semana anterior.
No acumulado, o drama de Walter Salles possui 3,44 milhões de espectadores nas salas de cinema. Sua arrecadação é de R$ 74,5 milhões, entre as maiores da história para o cinema nacional (ainda que aqui deva ser considerado o preço mais elevado dos ingressos em comparação com anos anteriores).
E mesmo assim Ainda Estou Aqui pode terminar a carreira como “apenas” o segundo filme nacional de maior bilheteria dos últimos cinco anos. Isso pois outro sucesso está se aproximando do drama sobre a ditadura militar. Trata-se de O Auto da Compadecida 2, que estreou no Natal e desde então se mantém entre o top 5 semanal da bilheteria nacional.
O Auto da Compadecida 2 atingiu 3,11 milhões de espectadores, com arrecadação de R$ 64,7 milhões. E isso competindo com fortes blockbusters estrangeiros, como Mufasa: O Rei Leão (acumulado de 4,14 milhões de ingressos e R$ 86,4 milhões de bilheteria) e Sonic 3 (3,17 milhões e R$ 62,5 milhões).
Tanto O Auto quanto Ainda Estou Aqui são os únicos filmes nacionais a ultrapassarem a casa de 3 milhões de ingressos vendidos desde 2020. Ambos podem ainda chegar aos 4 milhões antes de saírem de cartaz. A comédia com Selton Mello possui excelente boca a boca e capilaridade no Nordeste. Já o drama com… também Selton Mello deverá aproveitar mais um boost na audiência caso receba as desejadas indicações ao Oscar.
Seja como for, o fato é que ambos os filmes lideram a nova retomada do cinema nacional.
E olha que nem mencionamos Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, o novo longa baseado nos clássicos personagens de Maurício de Sousa. Em sua primeira semana, o filme para toda a família (e, portanto, competindo diretamente com Sonic e Mufasa) já atraiu mais de 320 mil pessoas aos cinemas.
Dito isso… Para onde vamos daqui?
Para que um filme nacional pós-pandêmico pudesse atingir a marca de 3 milhões de pagantes, foi necessário o longa brasileiro de maior sucesso e aclamação em Hollywood desde Cidade de Deus e a sequência direta de uma das comédias mais amadas de nossa cinematografia.
Ou seja, não são contextos facilmente replicáveis.
Hollywood vive de fórmulas já há décadas. Basicamente, os estúdios americanos descobrem quais franquias e tipos de filme são mais rentáveis e então insistem naquilo por um longo tempo. No Brasil, houve tentativas de fazer algo similar, como por exemplo os longas dos Trapalhões nos anos 70 e 80 e da Xuxa dos anos 2000, e mais recentemente as comédias no estilo “Globo Filmes” da última década.
Só que no cinema nacional as “fórmulas” geralmente não são tão duráveis quanto nos EUA. O megasucesso de Tropa de Elite 2 (11,2 milhões de ingressos vendidos e R$ 104 milhões de bilheteria) não inspirou outros hits de ação baseados nos problemas de segurança pública no país.
Enfim, os sucessos de O Auto da Compadecida 2 e Ainda Estou Aqui podem ter feito o espectador brasileiro perceber que ainda vale a pena assistir a filmes nacionais no cinema. Mas tais filmes foram apenas uma porta de entrada. Para que não ocorra o mesmo do ano passado (quando, apesar do bom desempenho de Minha Irmã e Eu, boa parte do ano foi dominada por filmes americanos) e sucessos de bilheteria não sejam algo ocasional dependente de fatores muito específicos, os cineastas brasileiros terão que descobrir como fazer com que o público continue indo ao cinema.
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Fonte: Filme B